“Seja aliado do amor que traz a esperança do dia melhor, pois a queda em nada acrescenta do que senão o aprendizado do porvir, que fará de vossa alma um espelho a refletir a luz da vossa consciência.
Digo de antemão que não trago más notícias, mas também a luz da verdade não poder ser ocultada para que não prejudique o necessário esclarecimento.
A cada dia que passo distante das crianças que há pouco me guiavam os passos, como luz a iluminar a estrada da minha vida, eu sinto a impotência de não poder dar a elas as respostas que desejavam, para o esclarecimento e fortificação da esperança.
Mas a luta que nos compele ao bem não impede que do lado oposto da vida, que é aquele no qual me encontro, não haja bons amigos a solicitarem de mim o empréstimo do conhecimento adquirido no campo do auxilio fraterno.
Divulguei, e muito, o bem que plantei, não com o intuito de me envaidecer do que fiz, pois agi por amor, mas com a vontade de trazer um pouco de experiência àqueles que necessitam de esclarecimento da escola da vida infantil.
Por muitos anos estive a frente de um lar que constituía o abrigo de muitos órfãos e crianças vítimas de pais infantis, violentos ou descuidados.
Acolhidos por entidades afins buscavam a força da educação fraterna e amiga, para que no campo da superação buscassem galgar novos patamares evolutivos.
Por deveras vezes me deparei com crianças paupérrimas, vitimas do infortúnio dos pais, que nada mais queriam do que dar a eles o que a vida não lhes permitia, o pão de cada dia.
Vinham diante de nós atrás do alimento, revestido da mão amiga, que acolhe e não julga, mas apoia e alimenta.
Estes famintos do alimento nada mais eram do que vitimas de uma sociedade ainda corrompida pelo orgulho e egoísmo.
Diante do desafio que se aproximava de nós a ação era medida e pensada para que nenhum mal abalasse a vida daquele que necessitava.
Pude acolher em meus braços vitimas de atos atrozes cometidos por seus entes, que tinham naquela criança o objeto da vingança, que ardia na consciência, sem a plena ideia de sua existência.
Meu Deus, como me doía ver aqueles braços moles, aquele olhar de anjo, aquela pele ainda frágil, vitima da violência ignóbil daqueles que deveriam ser seus tutores na terra.
Mais a queda não me era permitido, pois não tinha diante de mim outro desafio que não fosse a vida de cada pequenino.
Por muito tempo aprendi que amar é doar aquilo que lhe cabe na família humana que é constituída de todos nós.
Estive no linear da vida, acometida de enfermidade que me levou precocemente ao óbito.
Digo precocemente, pois muito ainda deseja fazer, embora meus mais de cinquenta anos não permitissem.
Ao partir, deixei deste lado o lar que me incumbia dirigir e seguir diante do Cristo que acolhe a todos que anseiam pela vida em sua plenitude.
Não senti maior alegria “pós-vida” do que aquela que vivenciei ao encontrar deste lado outro lar para cuidar.
Meu Deus, quanta alegria poder trabalhar no desenvolvimento de almas angustiadas para partir em nova jornada, ou então pelo retorno que não tardou a acontecer, por motivos que não me cabem algumas vezes saber.
Trago novamente o lar em meu coração, desenvolvo deste lado a vida de muitos, como antes, quando através da carne me punha a servir a muitos.
Hoje trago no coração a luz do esclarecimento espírita e sei que nada se perde no campo da vida e que para cada servidor sempre haverá o serviço condizente com a sua vontade de agir a favor do bem do seu semelhante.
Deito-me como antes, com várias preocupações com meus pupilos, mas o que antes me causava cansaço físico, agora traz força e luz.
Quantos servidores há deste lado dispostos a agirem pelo bem de seus semelhantes, me encanto com o lar em que hoje vivo com aquelas crianças que ainda são meus filhos do coração.
Trago na mente o desafio de ainda servir àqueles que me deseja o mal, pois não há luz maior do que o amor por aqueles que ainda estão escurecidos pelas trevas que entravam a consciência livre.
Não acolho pedras, mas faria com elas, diante de mim, lindo monumento de amor ao próximo.
A filha que me traz a felicidade é aquela que traz em si a força da esperança a guia-la pela vida.
Digo a todos aqueles que ainda não acreditam na vida após a morte física que é sepultada pela mãe natureza, que saibam, não há como fugir da verdade esclarecedora da continuidade da vida.
Pois assim sigo trabalhando, como antes.
Que a Paz do Cristo esteja no coração de todos.
Com amor e devotamento a Deus.
Lucinda (Luci)
Guiada e orientada pelo amigo Pedro Paulo”