terça-feira, 20 de maio de 2014

Decepção e os seus benefícios para a reforma íntima.

 
 


“A bendita misericórdia divina é o que nos protege dos males do cotidiano, transmitindo o apoio do qual necessitamos para a superação dos obstáculos que nos obscurecem a visão, entorpecida pela matéria.

A luz do esclarecimento traz novo brilho à vida que passa a ser guiada pela certeza de um porvir muito mais seguro e favorável ao seu desenvolvimento, por meio de lições nem sempre fáceis de serem adquiridas.

A decepção é curiosa ferramenta de que a vida dispõe para ensinar e reeducar o ser que se conduz pelo caminho do erro, trazendo este de volta a razão e a compreensão de suas verdadeiras necessidades.

Decepcionar-se é parte integrante de um todo que visa modificar o caráter do ser a favor do seu próprio bem, no sentido de lhe purificar a alma diante de más inclinações que ainda lhe sujeita ao erro.

A visão que se tem da necessidade modifica-se quando a decepção traz ao ser a necessidade de se rever como pessoa, para que o acerto não lhe fuja das mãos pela raiva ou pelo rancor.

Alguns ao se decepcionaram trazem para si todo o rancor e mágoa que necessitam para que não encarem a dura realidade de suas próprias ações.

A decepção modifica o ser enquanto o ódio e o rancor lhe conduzem ao abismo do erro. 

Para que o acerto e o reajuste do caráter sejam feitos é preciso que o ser traga em si a humildade de reconhecer as próprias falhas e modificá-las, para que o caminho seja novamente traçado a favor de sua própria melhora.

 
Não é possível que a pessoa persista no erro de acreditar que a decepção não lhe seja em parte o fruto do próprio plantio, pois ninguém colhe aquilo que não houver de alguma forma contribuído.

A melhor decepção é aquela que o ser sente em face de si mesmo, pois traz a certeza de que reconhece um erro e a necessidade de melhora intima.

 
Os nossos semelhantes são frutos que nos educam a favor da melhora íntima, que envolve, nitidamente, o relacionamento com o próximo.

É preciso modificar-se, pois assim supera-se a cada dia um novo obstáculo que obscurece a razão e a fé.

Deus como Pai que deseja aos seus filhos todo o bem sabe e conhece de antemão as necessidades de cada um no campo fértil do aprendizado diário.

Por esta razão nos coloca diante de desafios cada vez mais difíceis para que certas raízes que entorpecem o ser sejam arrancadas, dando lugar a todo bem e amor que de verdade necessitamos.

 
Não será por outro caminho do que o do esforço diário e contínuo que venceremos os obstáculos do caráter, pois somente assim teremos méritos para habitarmos moradas mais felizes.

Ainda ontem ouvi uma historia triste contada por ser de muitas falhas, mas ao mesmo tempo de invejável melhora intima.

O chamarei de Benedito.

Este amigo que foi muito pobre em vida soube dela usufrui o que há de melhor, embora o caminho tenha lhe sido penoso.

Quando ainda pequeno perdeu seus pais em um triste acidente ocorrido em fabrica que ficava próxima de sua casa.

Órfão, sem ter quem cuidasse de sua sorte, colocou-se a andar pelas ruas a procura do que pudesse encontrar.

Nenhum familiar lhe veio ao socorro, alguns porque nem mesmo do necessário dispunham.

Quando se viu entregue ao completo desânimo, lhe aparece um bondoso senhor que lhe apresenta uma oportunidade de ganho.

Seria vigia de automóveis e com isso poderia auferir pequena renda que possibilitaria o aluguel de um pequeno quarto em uma pensão.

Vou o que lhe bastou para que se entregasse diariamente ao trabalho, cuja sorte lhe sorriu no momento da maior penúria. 

Ao poucos adquiriu confiança e foi ter com o seu chefe, o mesmo que lhe havia oferecido o emprego.

Desejava um aumento, embora estivesse na labuta não há muitos dias, acreditava já ser merecedor.

Recebeu de resposta um belo não, pois o momento não era propício.

Decepcionado entregou-se ao álcool e passou a ser relapso no trabalho, até que nenhum vintém mais lhe fosse devido, pois havia perdido o emprego dado em momento de grande penúria.

A decepção lhe agravou o caráter e de trabalhador honesto passou a surrupiar outras pessoas na ânsia de saciar seu atual vicio e ver a suas pequenas contas pagas.

Foi finalmente preso e encontrou na cela outros tantos na mesma situação.

Como que se um raio lhe partisse as ideias, viu que o seu erro foi de se colocar em situação na qual ainda não era nem sequer merecedor.

Deus lhe havia concedido uma chance do trabalho honesto, que aos poucos lhe possibilitaria novos deveres e assim maiores ganhos mensais.

Quis muito quando ainda prestava muito pouco serviço condizente com o ganho que visava.

Pensou em seu antigo chefe, que sem lhe conhecer estendeu a mão confiando serviço de vigiar o patrimônio alheio, avalizando com o próprio nome o serviçal do qual dispunha.

Viu que havia tido um amigo que lhe estendeu as mãos, cujo valor não soube dar, mas pelo roubo quis ganhar aquilo que somente a responsabilidade lhe faria valorizar e merecer.

Saiu do cárcere e retornou ao seu antigo trabalho e ao pedir perdão pelo erro, demonstrando que pela decepção apreendeu a duração lição da necessidade e do mérito, colocou-se a agradecer toda a ajuda dada.

O seu amigo de bom grado lhe ofereceu novamente o emprego pedindo de retorno apenas disciplina, pois o resto viria a seu tempo, pois muito o aguardava na empresa que agora lhe empregava.

Assim a lição da qual necessitava veio pelo caminho da dor e da decepção, pois somente assim a luz da razão lhe trouxe novamente a certeza da fé e do bem divino.

Que Deus nos proteja sempre e nos dê o discernimento necessário nas escolhas, acertadas ou não, mas cujas lições todos necessitamos, cada um no seu tempo e modo.

Que assim seja.

Do amigo Pedro Paulo.”


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